Nas minhas fantasias invento habituais visitas aos cenários das gestas de cavalaria: pântanos, bosques, lagos laureados por densas brumas que desafiam o medo. Atraída pelo fantástico, pela beleza e por tudo aquilo que se encontra além da existência prosaica.
Puck, Ariel, Oberon, Titânia, ninfas e outros artífices invisíveis perceberam meu estado lastimoso, lamuriento e enfadado. Propuseram uma assembléia com Dionísio e as Bacantes, que são os manda chuva das florestas, e se prontificaram a urdir um poderoso estratagema para que eu pudesse conhecer um cavaleiro de verdade, já que a oferta de cavaleiros andantes havia escasseado com a mão de obra barata de sapos verruguentos e com pouco assunto além do “urebe, urebe” habitual. Coisas do capitalismo, enfim...
Só sei que as criaturas invisíveis e zombeteiras me fizeram tomar um tal mel de rosmaninho, conservado na charneca de uma mandingueira, lá pelas bandas da estação de metrô Picoas na cidade de Lisboa.
Quando dei por mim, voava dentro do bico de uma cegonha ao lado de centenas de bebês delivery. A ave estava avexada com entregas na Groelândia, na África Ocidental, no Paquistão, na Grécia e na China, onde pagavam um dinheirão por um recém-nascido extra.
E eu nem pude apreciar Lisboa se abrindo em primavera já que a cegonha teve a ousadia descabida de me jogar pela chaminé de um tal Magnetic, rasgando o meu vestido de lantejoulas que se transformou numa sainha curta de piriguete.
Foi neste lugar, no dia 25 de abril de 2008, meio descabelada e com a saia curta, que conheci o Alberto Artur Rosmaninho. Fingiu que era um simples cidadão flanando pela cidade, mas quando adentrou o recinto bem que vi a capa de arminho, o cetro e a coroa que ele guardou numa sacolinha horrorosa amarela.
Agora quando eu fico triste ele não deixa. Atravesso portas, subo muros altos, caio, levanto, calo, grito, mas sempre volto pra dentro do seu manto azul, cálido, perfumado e adornado por um céu de pirilampos.